Uma em cada quatro mulheres brasileiras apresenta sintomas de depressão pós-parto. Os dados da Fiocruz demonstram a gravidade da saúde mental materna em nosso país. O tema reuniu mulheres, mães, profissionais de diversos coletivos feministas e secretarias municipais em audiência pública nesta manhã de quinta (10), na Câmara Municipal de São Leopoldo. O encontro foi promovido pelo vereador Anderson Etter (PT), em parceria com a Onda Furta-cor de São Leopoldo.
A psicóloga Hamabilhe Garcia, integrante da Campanha Nacional Maio Furta-cor, apresentou dados alarmantes. O custo da depressão e ansiedade perinatal ao longo da vida no Brasil é de R$ 26,16 bilhões, incluindo os custos associados a uma pior qualidade de vida, perda de produtividade e cuidados hospitalares. Dentre o panorama geral, ela também destacou que 30% das mulheres atendidas em hospitais privados sofreram violência obstétrica. No SUS, a taxa foi de 45%. “Por isso tudo, vemos a importância da campanha Maio Furta-cor em articular leis pelo Brasil todo, para mudar o cenário da saúde mental materna em nosso país”.
A segunda palestrante, Gerusa Wasum – idealizadora da Rede Tear de apoio à maternidade atípica, relatou que, conforme sua pesquisa, mais de 50% das mães atípicas estão fora do mercado de trabalho. Além disso, fez algumas provocações e deixou o oportuno questionamento para a sociedade: “A quem pertence o tempo das mães?”
A psicóloga Mariana Algayer, relembrou sua iniciativa em 2023 de reunir mulheres mães para se olharem, se ouvirem e se cuidarem, principalmente focadas na saúde mental. “Visitamos várias instituições e as pessoas se surpreendiam com a carga de sofrimento exposta por aquelas mães. Isso demonstra o quanto está no tecido social a questão da maternidade ser algo essencialmente bom, mas não é. Para mim, a gestação é a vivência do mais puro paradoxo”, revela.
Os desafios da gravidez também foram abordados pela doutora em História, Priscilla Almaleh. Ela ressaltou a necessidade do olhar sob a ótica da interseccionalidade, que considera gênero, raça e classe social para acompanhar, avaliar a saúde e atender as gestantes em todas suas demandas. “A violência obstétrica é sofrida em muitos aspectos porque o corpo da grávida passa a ser público, todos querem tocar. A gente perde até o próprio nome e a autenticidade, a gente se transforma na mãezinha”, desabafa.
A audiência iniciou com exibição do vídeo dança da artista Paula Lau, grávida de sua filha Lua Maya. Também contou com a apresentação da minuta do Projeto de Lei (PL) que visa a instituição da Campanha Maio Furta-cor no calendário oficial do município de São Leopoldo, para a promoção de conscientização e sensibilização sobre cuidados essenciais para a saúde mental materna.
“Esse foi um primeiro encontro público para pautar esse tema fundamental, de relevância para toda a sociedade. Vamos seguir trabalhando para a aprovação da lei e para a efetivação de políticas públicas que abarquem a complexidade do tema e promovam saúde”, destacou o vereador.