Audiência pública proposta pela vereadora Iara Cardoso reforça compromisso com soluções humanizadas para a população em situação de rua

Audiência pública proposta pela vereadora Iara Cardoso reforça compromisso com soluções humanizadas para a população em situação de rua

O Plenário da Câmara Municipal de São Leopoldo foi palco, na noite desta quarta-feira (12), de uma Audiência Pública promovida pela presidente da Casa, vereadora Iara Cardoso (PDT), para discutir a situação das pessoas em situação de rua no município. O evento reuniu representantes do governo municipal, organizações da sociedade civil, vereadores e membros da comunidade, com o objetivo de debater soluções conjuntas para essa questão desafiadora.

A audiência contou com a participação da secretária de Assistência Social (SAS) e primeira-dama, Simone Dutra; do representante do gabinete do prefeito Heliomar Franco, Guilherme Magro; do secretário de Direitos Humanos (Sedhu), Leonardo Klaus; e da diretora-executiva do Círculo Operário Leopoldense, Odete Zanchet, representando as organizações da sociedade civil.

Durante a abertura, a vereadora Iara Cardoso ressaltou a importância de dar voz e buscar soluções efetivas para essas pessoas. “É uma honra muito grande a Câmara abrir seu Plenário para debater essa questão. É um tema candente, desafiador e atualíssimo. Esperamos que este debate possa resultar em encaminhamentos que melhorem a vida dessas pessoas”, disse.

Conforme a secretária de Assistência Social, Simone Dutra, a pasta tem se esforçado para dar dignidade a essa população. “A cada dia aprendo mais sobre a situação dessas pessoas. Criamos a Operação Resgate, que une secretarias, comitês e órgãos para agir de forma humanizada e coletiva. Iniciamos abordagens para escutar essas pessoas, oferecer apoio médico e auxiliar com documentação”, destacou. Ela ainda reforçou a necessidade da continuidade das ações, garantindo que “é apenas o começo. O sucesso vem da união e do diálogo”.

A titular da SAS também compartilhou algumas iniciativas recentes. “Realizamos a ação Verão Pop, oferecendo atendimentos médicos, psicológicos e de saúde bucal, além de encaminhamentos para emprego. Nosso objetivo é promover uma sociedade mais justa e humana”, ressaltou, se referindo à ação realizada na terça-feira (11) devido ao calor intenso dos últimos dias.

Já o secretário de Direitos Humanos, Leonardo Klaus, destacou a relevância de uma atuação integrada para a promoção dos direitos humanos. “A situação dessas pessoas expõe múltiplas vulnerabilidades. Precisamos sair do discurso e partir para a ação. A Operação Resgate e o Verão Pop são exemplos do que podemos fazer com esforço conjunto”, afirmou, anunciando a criação de um centro de referência em direitos humanos no município. “Queremos atender não apenas a população em situação de rua, mas todos que têm seus direitos violados”, garantiu.

Odete Zanchet, diretora-executiva do Círculo Operário Leopoldense (COL), enfatizou que as ações sociais não devem ser uma responsabilidade isolada. Ela ressaltou a atuação da sociedade civil na promoção da dignidade. “Nós não podemos esperar somente pelas ações do governo. A sociedade civil também tem o papel de mobilizar, acolher e fortalecer os vínculos”, afirmou. 

“Como Organização da Sociedade Civil, o nosso papel é estar ao lado, apoiando e fortalecendo a articulação da população de rua, sempre respeitando a dinâmica das vivências na rua e jamais falando por eles. Conforme a política nacional, destacamos que é atribuição do poder público promover o atendimento direto às necessidades básicas, como alimentação, acolhimento, moradia, saúde, etc., incluindo a abordagem sistemática. Mas sempre nos colocamos parceiros para a construção de uma política que priorize a dignidade e a liberdade de todas as pessoas", lembrou Odete. Sobre os próximos passos, ela sugeriu maior integração entre diferentes setores. “A solução precisa ser intersetorial. Saúde, assistência social, moradia e trabalho devem caminhar juntos para oferecer dignidade e liberdade a quem vive nas ruas”, concluiu.

Ex-morador em situação de rua volta à vida com apoio da Operação Resgate

O ex-morador em situação de rua Rafael Godoy, de 39 anos, emocionou a todos ao contar sua história de superação. Ele foi resgatado durante a Operação Resgate. “Meu nome é Rafael, sou um ex-morador de rua. Graças a anjos que Deus coloca na vida da gente, hoje tenho um trabalho e um lugar para morar”, disse ele, emocionado, ao relatar os desafios que aconteceram.

Rafael revelou que a dependência química o levou à perda de tudo o que havia conquistado. “Usei cocaína por mais de 20 anos. Quando migrei para o crack, perdi tudo em três anos, até mesmo o vínculo com minha família”, contou. Ele, que hoje atua em um trabalho estável, também coincide com sua visão sobre a luta contra a dependência química. “Eu sou consultor terapêutico em dependência química e fiz vários cursos sobre o tema. Acredito que 80% é doença, mas 20% é um minuto de escolha errada. Ninguém te leva até lá, você vai sozinho. Por isso, é tão importante ter alguém que acredite em você”, confessou.

Operação Resgate realiza 50 abordagens e intensifica ações de acolhimento social

Segundo Caroline Timm, atendente social responsável pela ação, a operação tem buscado intensificar o atendimento a pessoas em vulnerabilidade. “O total de abordagens foi de 50, com 46 pessoas abordadas, já que algumas foram abordadas mais de uma vez durante os dias da operação”, explicou. 

Os dados também mostram a diversidade étnica entre os moradores em situação de rua: 22 pessoas se declararam brancas, 12 negras, uma indígena e outras 11 não forneceram informações. “Observamos um aumento de pessoas que se declaram da cidade de São Leopoldo e que começam a criar vínculos aqui. Isso é importante para entender se uma pessoa deseja permanecer ou retornar à sua cidade de origem”, destacou Caroline, ao explicar o trabalho de identificação.

Outro ponto importante abordado pela equipe foi o uso intenso de substâncias psicoativas (SPA), presente em 31 dos indivíduos envolvidos. Do total, 12 são  migrantes e 34 pessoas se declararam residentes de São Leopoldo, embora alguns não fossem nascidos na cidade.

Das 46 pessoas abordadas, 30 estão atualmente em acompanhamento psicossocial no Centro POP. “Algumas pessoas acabam não criando vínculo com o Centro POP por dificuldades de acesso, mas continuamos acompanhando in loco para novas sensibilizações e encaminhamentos”, explicou a atendente social.

Caroline também informou que o Centro POP segue trabalhando com a identificação de novos casos e no fortalecimento de vínculos familiares ou sociais para aqueles que desejam retornar às suas cidades de origem. “Nosso trabalho é contínuo e focado em oferecer oportunidades para que essas pessoas possam reconstruir suas vidas com dignidade”, finalizou.

Durante o encerramento da Audiência Pública, a vereadora Iara Cardoso destacou o progresso histórico da assistência no município, relembrando os primeiros passos dados no final da década de 1990. “Começamos de forma muito incipiente, com o albergue Bom Pastor, nos fundos do Hospital Centenário, em parceria com a Igreja Católica. Mesmo naquela época, havia algo que não falta até hoje: compromisso, amor, acolhimento e humanização”, relembrou.

A vereadora também ressaltou a importância do trabalho técnico e da dedicação da equipe envolvida. “Acreditamos que São Leopoldo pode ser um exemplo para a Região Metropolitana, para o Brasil e para o mundo, mostrando como se trata dessa questão com técnica, expertise e, acima de tudo, com muito amor”, disse ela.

“Esta Casa está de portas abertas para os moradores em situação de rua e para toda a cidadania. Seguiremos esta pauta, trabalhando, acompanhando e torcendo para que São Leopoldo leve esperança para o país e o mundo”, concluiu.

Fotos: Guilbert Trendt/ Gabinete da Vereadora Iara Cardoso